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Noticia publicada no Sapo24
A sede de conhecimento de Stephen Hawking estendia-se também a Portugal. Mais especificamente à arquitetura e gastronomia nacional. Se muitos se recordam da visita virtual do físico na última edição da Web Summit, poucos saberão que o reconhecido académico britânico visitou o país por três vezes, entre 2014 e 2016. E até provou os famosos Pastéis de Belém.
Entre 2014 e 2016, Stephen Hawking visitou Lisboa por três vezes. Todas com o intuito de saber mais sobre a capital portuguesa e sobre a história do país. As três visitas foram organizadas pela Cooperativa Milacessos, a pedido das agências de viagens Ibercruises (nas duas últimas) e pela Shore Tours (na primeira). Pedro Brandão, guia da Cooperativa Milacessos, e da Daniel Silva, motorista e assistente de viagens da TourismForAll, ambas especializadas na área do Turismo Acessível, contam como foi.
“Sempre lhe falaram bem de Lisboa… então ele tinha curiosidade de conhecer a nossa gastronomia e os nossos museus”, conta Daniel. Por sua vez, as suas visitas à capital também suscitavam algum interesse por parte de quem as testemunhava. “Uma das coisas que nos perguntavam mais era como é que ele comunicava connosco, ao que respondíamos ‘através do computador’. Mas também havia aqueles que se mostravam surpreendidos porque pensavam que ele já tinha falecido. Ou ainda os que falavam sobre o filme [“A Teoria de Tudo”]. Até chegaram a pedir autógrafos”.
Apesar das dificuldades de comunicação, através da equipa que o acompanhava, 9 pessoas a todo, o físico fazia questão de se mostrar muito “agradado” por conhecer a cidade. “Ele ficou bastante impressionado com as nossas colinas e com a nossa arquitetura”, adianta Daniel. “As pessoas quando percebiam que era o Stephen Hawking que viajava na viatura, aproximavam-se. Queríamos avançar, mas não era possível. Queriam tirar fotos e cumprimentá-lo”, partilha Daniel. Já Pedro recorda que “algumas pessoas colocavam-se à frente dele enquanto outras lhes tiravam fotos”.
Como é que é ser guia do maior físico do século XX? “Não é fácil”, conta Pedro. Organizar a tourpode ser uma tarefa estimulante mas traz consigo alguns desafios, dadas as condições físicas e limitações ao nível da comunicação.
E como é preparar uma viagem destas? “Com atenção a todos os detalhes”, desde o primeiro momento. Da verificação da estrutura dos edifícios, das rampas aos WC’s, à formação da equipa que acompanha a viagem. O objetivo final é sempre “garantir o máximo de segurança” ao “turista”. Apesar de haver um cuidado por parte da TourismForAll no aconselhamento de “museus acessíveis”, Daniel Silva diz que “a maior parte” já tem “as condições necessárias”.
E efetivamente Hawking foi um turista em Lisboa. Em 2014 visitou a Torre de Belém, o Museu da Marinha, o Mosteiro dos Jerónimos e a Fábrica dos Pastéis de Belém; em 2015 foi ao Museu dosCoches, ao Centro Cultural de Belém, onde almoçou, e passou de carro pelas ruas de Alfama; em 2016 visitou o Museu Nacional do Azulejo, monumento pelo qual tinha “grande curiosidade”, e a baixa de Lisboa.
Por visitar ficou o Castelo de São Jorge. “Estava previsto para uma próxima viagem, mas já não foi possível, infelizmente”, lamenta Pedro.
Apesar das limitações dietéticas que tinha, o físico alimentava-se essencialmente através de uma sonda, não quis deixar de provar o Pastel de Belém, logo aquando da primeira visita. “O Stephen Hawking já não comia bolo há trinta anos e nós levámo-lo aos Pastéis de Belém. Ele gostou tanto que até disse ‘o que é que eu tenho estado a perder'”, partilha o guia da Milacessos. “Ficou encantado e até esboçou um sorriso”, conta motorista da TourismForAll.
Na segunda visita, apesar de não estar agendada uma visita à fábrica dos famosos pastéis, já tinha à sua espera uma caixa dos ditos bolos.
O físico que sofria de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), que o deixou preso a uma cadeira de rodas e sem mobilidade praticamente nenhuma, não podia viajar de avião. Por essa razão deslocava-se sempre em cruzeiros de turismo. As visitas, de curta duração, duravam cerca de meio dia e Hawking nunca pernoitava na capital.
Em nenhuma destas visitas foi recebido por representantes da autarquia ou entidades políticas nacionais. “Apesar de ser muito famoso, ele queria passar despercebido e ter uma visita discreta, o que era quase impossível”, conta o motorista e assiste.
Numa nota enviada ao SAPO24, a Tourism For All, que opera em Portugal e Espanha, manifesta um enorme “prazer e uma honra” na prestação dos seus serviços a Stephen Hawking, sempre com o intuito de proporcionar “uma visita cómoda pela cidade” de Lisboa “com toda a ternura, profissionalismo e dedicação dos profissionais afetos ao serviço”.
Os profissionais da Tourism For All são credenciados pelo Instituto da Mobilidade e dos Transportes
(IMTT). Os seus serviços incluem o transporte e acompanhamento de pessoas com necessidade de cuidados especiais, quer de, alimentação, higiene e bem-estar, saúde e de mobilidade reduzida (tendo para isso uma formação adicional na área dos auxiliares de ação médica).
Stephen Hawking morreu esta madrugada em casa, em Cambridge, aos 76 anos. O físico britânico cujo trabalho se destacou na área da relatividade e dos buracos negros, despediu-se do mundo no dia do Pi (3,14) e no dia em que nasceu Albert Einstein.
[Notícia atualizada às 16h17 com o depoimento de Pedro Brandão, da Cooperativa Milacessos]